A pauta é o financiamento corporativo das campanhas eleitorais, das
votações no congresso e das decisões unilaterais de cada juiz até chegar no
STF. Todas indecentes porém legitimadas após a o nascimento da constituição
federal, três anos depois do fim da última ditadura militar. Inclusive, no último dia 4,
aconteceu marcha militar e intervencionista em várias partes do país, a contar com
Salvador.
Via um vídeo de Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro residente em
Boston nos estados unidos, quase um missionário para as novas gerações liberais do Brasil,
e interpretava todos seus argumentos a favor das ditaduras militares na América
do Sul, com ênfase na nossa. O manifesto manipulador defende a manutenção da
truculência do estado armado, numa tentativa de vulnerabilizar as ações
populares enfrentadoras dos atos opressores, como o de Michel Temer semanas passadas
em Brasília.
Os palácios presidencial e da justiça e o congresso somente foram
vistos de longe. A nossa frente e sobre nossas cabeças, aparelhados, estavam polícias, cavalos,
helicópteros e armas truculentas advogadas pelos discípulos de Olavo. Mais atrás, no quintal da república, pisando no capim da esplanada dos ministérios, dia 24 de maio deste 2017, parte do gado,
representada em grupos miúdos, fez ensaio de guerrilha e alguns jovens
brasileiros desafiaram as forças armadas, dando dicas mínimas do que o povo brasileiro é capaz.
Na história da república, progressivamente, o poder estatal sempre deu
impunidade a seus agentes institucionais, desde o fim
do império, ao adaptar-se no modelo de república que se estabeleceu sem
resistência do imperador. Quando diretamente esteve sob governos militares, as
intervenções nunca foram combatentes da corrupção do estado apossado.
A decisão militar de centralizar o poder no eixo sudeste-sul,
desestabilizando a autonomia dos estados; de instrumentalizar a produção
agrícola e depois industrial para relevar a divisão de classes, retaliando o
país de cima pra baixo; e o exagero na militarização das forças armadas, sintetizam os nossos governos militares. O que provocou no passar do tempo e
sob o reflexo dos atos da república, o enfraquecimento progressivo de todas as
forças desarmadas do país, até chegar ao extremo dos operadores públicos
julgarem com propriedade suas próprias operações duvidosas. Surgem a desmoralização e desconfiança
em grande escala, os escândalos de autoritarismo e as condenações ainda tíbias. Tíbias por que
sabemos de onde vêm os principais líderes constitucionalistas – os que ajudaram
a desenhar as leis do brasil atual – e quantos deles são condenáveis.
A maioria vem do berço da soberba institucional estabelecida também
pela derradeira ditadura, regenerada na estratégia consolidada do golpe da re-democracia.
Esta foi executada na prática por personalidades de todos os setores da
sociedade, em maioria descendentes e representantes das proles carrapatistas alimentadas
da sopa que mistura a velha republica, o estado novo e as extensas ditaduras. Servidores
públicos, jornalistas, economistas, docentes e discentes, juristas, sociólogos,
filósofos, médicos, sacerdotes, artistas... todos ofereceram representantes a
pedir ordem para a manutenção de uma classe infectada pelo vírus do privilégio
pseudo-republicano.
A herança cultural do último período militar reinante efetivamente por
quase 25 anos, caracterizada principalmente pela violência, sacramentou nossa
democracia pobre e liberal. Financiadora da ordem das classes desiguais.
Da mesma forma que o império constituiu a classe dos privilégios distribuindo títulos de nobreza, exatamente como seus pares monarcas europeus, dando-lhes chiqueza, a república (lembrando que o primeiro presidente foi o marechal Deodoro da Fonseca, um militar), desde seu preâmbulo, e as
ditaduras subsequentes, consagraram o fato conveniente, concedendo altos cargos
públicos à velha classe privilegiada, convertida de monarquista a republicana a um só tiro.
Carvalho também citou dentro do mesmo contexto, e que acabou servindo
de contradição de seu próprio argumento, que nos últimos 40 anos praticamente
inexiste livros relevantes para o relato da nossa história. Emenda, não haver publicado exemplar algum consistente no Brasil, durante estas últimas quatro décadas, deste a literatura até a cinematografia.
Ao dar margem a sua interpretativa, observa-se, no entretanto, que a
essência da precariedade que existe nestes quarenta anos é derivada,
justamente, da dissidência do modelo opressor implantado pelo regime militar e
suas práticas herdeiras., sobreviventes até hoje.
A política se constitui da força perceptiva de quem pode enxergar de
forma sensível as características próprias do que estar ao seu redor. A polícia não.
Quando ocorre a inexistência ou pelo menos a deficiência desta constituição,
causada principalmente pela policialesca repressão do pensamento, o ambiente
político, que deveria estar preservado pelas liberdades e interesses comuns, se
torna vulnerável aos interesses invisíveis e individuais, que se tornam beneficiários
de recursos indevidos e privilégios possivelmente intocáveis. Muito obstante da missão
original do organismo público de arrecadação: facilitar a vida das pessoas.
Chegamos ao Brasil do século XXI com o protagonismo de apenas pouco
mais de uma dezena de grupos corporativistas, extremamente capitalistas e
globalizados. Estes grupos sobressaem, entre outros fatores, por sequestrarem o
importante e supracitado exercício na percepção política nacional. São
empresários de nível internacional, bem assessorados politicamente, porém brasileiros
que usam muito bem a nossa linguagem informal (vide o "jeitinho brasileiro" de Gilberto Freire) para fraudar e comprar
facilmente a procuração popular de funcionários e colaboradores da máquina pública.
Ao invés do estado através de seus servidores se relacionarem com as demandadas
necessidades populares, o fazem somente com estes grupos endinheirados que lhes
garantem o enriquecimento e a propriedade real dos cargos e mandato.
A máscara dessa classe política patrimonialista dentro do nosso mais
novo período de democracia cai pela inutilidade, ignorância, covardia e desonestidade;
Inútil por não negar a corrupção desmascarada. Ignorante por ignorar as
necessidades dos seus representados, fato que automaticamente a deslegitima da função representativa, Covarde por se blindar em última instância atrás do poder de opressão. E desonesta
por creditar sua estrutura política ao capital credor.
Moral da história, em Brasília ou em qualquer município do país, como
em Salvador ou em Caém, na totalidade desta república de zumbis, ocorre
sistematicamente o mesmo esquema - líderes dos partidos políticos para
elegerem-se vendem a própria alma - até aí não existe problema, cada um vende
sua alma se quiser - também vendem a alma de sua terra e de seu
povo para modernos operadores financeiros que nem alma tem.
Em troca de dinheiro para as campanhas eleitorais são assinados
acordos de concessão ilegais e injustos, totalmente incompatíveis com o
orçamento público, justificados claramente pelo risco do candidato e agente tomador
do empréstimo não vencer as eleições e não lograr obter dinheiro publico para pagar.
Escancara-se, proporcionalmente, o entendimento que o velho Brasil republicano
simplesmente está vendido para grupos empresariais. E as grandes, médias e
pequenas cidades como Caém, Salvador e São Paulo, a exemplo da graúda maioria dos municípios
brasileiros administrados pela Escola Republicana de Corruptos, estão vendidas também.
Campanhas mirabolantes financiadas pelo poder privado em troca de facilitar
a concessão de verbas públicas, um exemplo recorrente, é assalto a população. O que
fortalece a luta para estancar esta sangria injusta é a punição dede todos ou pelo
menos da grande maioria dos servidores públicos envolvidos nessa farra. A
penalização não deve visar somente os políticos escolhidos pela expressão
popular, mas também os nomeados, comissionados, cooperadores, fornecedores e
principalmente os concursados, aonde boa parte está enraizada num sistema corrompido,
entre a estreita objetividade da burocracia estatal e o perverso patrimonialismo
da nossa republica ainda miliciana, disfarçado de constituição cidadã..
Em 1889 o Brasil tinha 10 milhões de habitantes e 15% eram escravos. No
atual não, há uma sociedade diversa, dinâmica, produtiva, criativa, bem
humorada, porém, mal informada e passiva, consequentemente com um percentual de escravos bem
superior ao daquela época. Mantedores da boa vida de uma classe privilegiada pendurada num estado assaltado, renegador do princípio fundamental de republica, a supremacia do
interesse público sobre o privado.
O grito das massas do instante,
ou somente o meu, é de vergonha do velho estado republicano que ainda somos e
de desafio duma sociedade que quer virar país, ou países. Que vê o futuro, tem
sede dele, mas que é atrapalhada pela estupidez de servidores e gangsters herdeiros. Espero
que seja como nos nossos sonhos.
Por Rafael Muricy.
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