domingo, 29 de julho de 2018

A rede

Este sábado (28) foi um dia diferente nos parâmetros da extensa pesquisa a qual me dedico. Estive todo o dia em um campo da batalha política..
A rede sustentabilidade, partido jovem e claramente saneado pelas ideias da candidata a presidência da república pela terceira vez, Marina Silva, lançou oficialmente seus representantes para a disputa dos cargos eletivos do estado da Bahia.
Apesar da convenção nacional do partido estar marcada para o próximo dia 4 de agosto, a professora acreana, ouvinte de Chico Mendes, tem sido aclamada nas convenções que acontecem nos estados.
Foi um dia diferente porque me tocou testemunhar, atentamente, a convenção de um partido diversificado dentro dum estado relevante como a Bahia.
Na origem, sao diferentes a luta dos seringais na amazônia e a luta dos negros em terras baianas, pra dar exemplo, porém, a política transcende as diferenças, reordena a ordem das coisas, constrói lastros improváveis e liga o motor integrador da diversidade das origens. Marina Silva descobriu isto. Ainda bem. Parece ser uma mulher séria, de açoes competentes e comprometida em evoluir nas questões  que envolvem o desequilíbrio social e seus injustos desdobramentos.
Mulheres e homens de praticamente todas as regiões da Bahia, de jovens a idosos do interior e da capital, se reuniram neste sábado final de semana com o intuito de oferecer, durante os próximos quatro ou oito anos, suas experiências ao estado brasileiro.
35 filiados a rede, representantes das variadas comunidades urbanas e rurais - religiões, mulheres, juventude, deficientes físicos, universidade, negros, pastas do funcionalismo público entre outras pessoas -, foram aclamados candidatos para os cargos de governadora, vice governador, senador, deputado federal e deputado estadual. Os cargos mais importantes dos poderes executivo e legislativo.
A quase inexistente manifestação dos porta-vozes e candidatos sobre a conjuntura atual chamou atenção no evento. Principalmente a respeito do debate que pauta a instabilidade das instituições democráticas e a excessiva polarização ideológica instaurada em todas as regiões do Brasil. Apenas foi ressaltado, na voz de alguns candidatos, o já conhecido desinteresse crescente da população com a política partidária. A rede insiste em desassociar-se dos partidos existentes, introduzindo a narrativa na "nova política", dos mandatos participativos, da verticalizaçao, da municipalizaçao, da inovação do conhecimento. O que é ótimo para a evolução da agenda do país.
O problema é saber lidar com a resistência imposta pela estrutura político-estatal atual, ao navegar num sistema institucional que se mostra incompatível a movimentações descentralizadoras.
Surpreendentemente, nas eleições deste 2018, decisivas para muitos, mais de dois terços dos partidos nao terão candidatura própria a presidência, por optarem em apoiar suas cansadas forças em opções infladas de outros partidos, de preferência com grandes bancadas no congresso e/ou nomes populares e bem instalados no estado constitucional de 1888.
Apesar de Marina Silva acumular histórico de cargos importantes na república - ministra de meio ambiente e senadora -, ela nâo parece desfrutar de algo além da simpatia oficiosa dos seus pares políticos, que lhe negam alianças. Fato que reflete na atuação da sigla pelos estados, como na Bahia, onde a legenda liderada pela candidata a governadora, Celia Sacramento, uma mulher negra, de bom histórico profissional e pessoal, professora de experiência em cargos públicos, conseguiu apenas o apoio de um partido nanico, Patriotas, há pouco tempo ainda cotado como possível hospedeiro da candidatura de extrema direita de Jair Bolsonaro.
É verdade que algumas alianças não seriam bem vindas, como observa incansavelmente os porta-vozes do partido, entretanto, a maioria dos partidos existentes rejeita a grande ideia da rede de redefinir os moldes da política brasileira.
Os políticos já bem instalados no estado aparelhado, respondem acuados ao ideal revolucionário da Marina impetuosa de "tardia" alfabetização; o povo brasileiro, em meio as dificuldades, angustiadamente pergunta o que fazer...
Ontem, na minha missão de testemunha, revi, possivelmente, um partido político decidido a juntar forças para responder com clareza esta complexa indagação.
Os concorrentes que se preparem, a aparentemente frágil Marina Silva, com sua rede crescente, vem com força para convencer o Brasil.


Rafael Muricy