quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A voz da esperança



Faz muito tempo em Caém que se fala em mudança. É o que se aplica de quatro em quatro anos, como assunto principal nas extremas disputas eleitorais e nas efervescentes acusações entre candidatos a prefeitura. Sempre os mesmos grupos viciados se apresentam como soluçao aos entraves sociais, administrativos, econômicos e políticos que assolam nossa terra há décadas. 

Quando chega época de eleiçao, o que se aproxima, é tempo de gente a flor da pele, famílias se desentenderem internamente, o povo é impulsionado a cantar músicas de campanha, a balançar bandeiras coloridas, últimamente amarelas ou vermelhas. Nas alturas dos palanques, no lugar das propostas, gritos histéricos que desdenham os opositores. Infla o ímpeto das ofensas. O dedo em riste, olhos arregalados, as vozes em tonificação elevada, escandalosa, deixam as últimas sílabas percorrerem até que o fôlego se esgote. 

Entre as frases e palavras de ordem gritadas, destaque para o "MUUUUUUUUDA CAÉEEEEEEM"!!! Este efeito confunde nossas cabeças. Uma vez que realmente há grande necessidade de mudar e com a ideia posta, todos se alvoroçam. 

Após a histeria, deveria vir lá de cima do palanque uma explicaçao concisa ou pelo menos um programa escrito estabelecendo os passos da açao prometida. Afinal, se o que querem todos é a bendita mudança, poderiam sentar civilizadamente e firmarem um acordo pelo bem comum. Nao apenas falar por falar, só pelo fato de ser isso que o povo quer ouvir. 

Observe leitor, que assim passou nosso tempo e com ele varias eleições e mandatos se completaram. A repetir ciclicamente a mesma ladainha. O município foi governado por vários gestores e te pergunto, o que mudou? 

Já é claro que o "MUDA CAÉM" replicado pela maioria dos homens públicos nas campanhas até aqui foram apenas um golpe de retórica. Como é óbvio entender que as palavras têm poder, além de serem o principal instrumento da política. Muitos as utilizaram e seguem utilizando sem escrúpulos e sem um mínimo de compromisso ou respeito por quem escurta. E a prova está aí, para todo mundo ver. Estamos em 2019 e Caém nao mudou. Quem sabe, se olharmos com atenção, esteja ate pior que antes, infelizmente. 

É certo que alguns líderes lutaram por alguma mudança considerável, como o hospital por exemplo, que demandou perseverança. Sao mais de 57 anos só de emancipação. Seria injusto colocar todos os gestores de nossa história dentro do mesmo balaio. Porém, dêem-me licença; as mudanças foram muito abaixo das nossas necessidades. Pouco se evoluiu, a nao ser a violência, a pobreza e as lamentaçoes. 

Além de tudo isso, falta consideraçao, humildade e alternância. Algo básico e crucial para a democracia e a evoluçao de qualquer comunidade. Se agarram ao poder, mesmo sem capacidade, na base da manutençao da pobreza. 

Sou caenense e como eu, também cresceu e ainda cresce aqui toda uma geração marcada pela falta de oportunidades. Nao há um conterrâneo ou conterrânea, profissional empreendedor(a), empregado(a), desempregado(a) ou ainda estudante, que nao tenha gravado em memória, como um zumbido permanente nos ouvidos, a velha, falsa, oca e desmoralizada promessa de MUDANÇA. 


Por isto, se faz necessário uma singela reflexão, boa pra fazer antes de dormir, dos nossos honrados idosos até a mais pura das nossas crianças: - em que mudança vale a pena apostar, na prometida desde sempre ou na que surge pela nova voz da esperança?


Rafael Muricy