sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

De frente pro Rio. Nem de costas nem de lado.

Luz dum futuro aglomerado 
O palco do líquido pujante 
Bem no ventre de um vale dotado
Águas puras em volume 
Rio de lágrimas humildes 
Pedras casadas ou amantes

Beleza variada 
Mato de musgo crescente  
Cobertura de terra nativa 
Alimento da vida escassa
Caminhos de flor colorida

Atmosfera gritante
O tempo imune das nuvens
Aconchego da água e das pedras
Atraiu mulheres e homens

Rica, fértil, de nutrientes embebida
Veio os agricultores, antes do povo mineiro
Do governo os projetistas
Da demanda os construtores 
Do embalo os comerciantes 
As ideias dum engenheiro estrangeiro

Já tinha a capela
Que por ordem mudou de vista
Virou igreja moderna
Estaçao no horizonte
Ar desenvolvimentista

Veias paralelas
Uma era a linha férrea
A outra já parecia pista
Entre elas, espremida
Nossa principal arteria
Pulsante e a mais viva

Se criou o povoado
De querer se fez vila
Ao pensar em ser cidade
O povo se viu emancipado 

De um lado a vista da serra
Debaixo a ferrovia 
Do outro o calor do morro
A serpente por entre o roçado 
em forma de rodovia
Nas costas de ambos os lados
Desprezado
Nosso Rio agonizaria

Ana Rosa disse 
Enquanto a nossa igreja Matriz 
Fosse virada para este lado 
Caém nao desenvolveria

E a natureza proclama 
Com ela nao há hipocrisia
Se nao virarmos de frente pro rio
Nosso bem mais sagrado
Teremos de vida poucos dias 

rafael muricy